Aula 2 - Gênero discursivo e Tipo textual (Narração)
- Fernanda Araujo
- 22 de ago. de 2018
- 9 min de leitura

O texto faz parte do nosso dia a dia.
Ao pedir um café, ao escrever um post no facebook, ao enviar uma mensagem via whatsapp, ao convidar um amigo para uma festa, ao agendar um exame, ao atender um cliente, ao ministrar uma aula,....
Em qualquer lugar onde haja linguagem, atividade humana, há gêneros textuais ou discursivos, orais ou escritos.

O termo gênero discursivo foi utilizado pela primeira vez pelo filósofo russo Mikhail Bakhtin (1895-1975), são as diferentes formas de linguagem empregadas nos textos, podendo ser formais ou informais.
Exemplos de gêneros discursivos escritos: romance, crônica, conto, artigo de opinião, notícia, resenha, receita.
Exemplos de gêneros discursivos orais: aula, debate, palestra, podcast (audio).
Os gêneros discursivos são nossos conhecidos e são reconhecidos pela forma de composição dos textos a eles pertencentes, pelos temas, pelas funções que viabilizam e pelo o estilo de linguagem que permitem.
Quatro elementos caracterizam os gêneros discursivos:
Composição
Temas
Funções
Exemplos:
Gênero discursivo: Notícia
O gênero notícia, por exemplo, relata fatos de interesse público de maneira objetiva e clara.
As notícias transmitem informações sobre os fatos que acontecem, que aconteceram ou que ainda estão para acontecer.
Ao escrever uma notícia, o redator procura dar informações com detalhes, quase sempre respondendo às perguntas: o quê; quem?; quando?; onde?; como?; por quê?.
O gênero notícia, em geral, tem a função principal de mencionar os acontecimentos mais relevantes, de modo que possa atrair o interesse do público a que se destina.
Numa notícia predomina a narração por meio de uma linguagem objetiva e impessoal. Entretanto, muitas vezes, quem escreve uma notícia vai além da simples informação sobre o que e como aconteceu o fato. Assim, é comum se observar uma escrita permeada por um sentido ideológico e interesse político específico, pois quem escreve também tem a pretensão de formar uma opinião sobre o que está informando.
A notícia apresenta, comumente, uma estrutura padrão, composta de duas partes: o lead e o corpo. Nesse gênero, o título, o olho e o lead, além de atrair a atenção do leitor, estimulam sua curiosidade, fazendo-o levantar hipóteses, as quais só serão ou não confirmadas depois da leitura completa da notícia.
O olho da notícia é um trecho escrito em destaque, que completa as informações dadas no título da matéria.
O lead é um relato sucinto dos aspectos essenciais do fato e consiste normalmente no primeiro parágrafo da notícia. Seu objetivo é dar as informações básicas ao leitor e motivá-lo a continuar a leitura.
Abaixo um exemplo do gênero discursivo notícia
Longe da meta, vacinação tem dia D neste sábado contra sarampo e pólio
Campanha é para crianças de 1 a menos de 5 anos, inclusive as já imunizadas antes
A duas semanas do fim da campanha nacional de vacinação contra sarampo e poliomielite, a adesão ainda está abaixo do esperado, apontam dados do Ministério da Saúde: balanço divulgado pela pasta aponta que cerca de 1,8 milhão de crianças já foram vacinadas.
Na tentativa de aumentar a adesão, o governo federal realiza neste sábado (18) o chamado dia D de mobilização para vacinação pelo país. Com a medida, mais de 36 mil postos de saúde devem estar abertos durante todo o dia. Após o dia D, a campanha segue até 31 de agosto.
Notícia completa disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2018/08/longe-da-meta-vacinacao-tem-dia-d-neste-sabado-contra-sarampo-e-polio.shtml





Gênero textual ou discursivo:
Portanto, os gêneros textuais ou discursivos apresentam aspectos específicos que definem sua composição. Nesse sentido, é em conformidade com a esfera comunicativa, o propósito do enunciador e o contexto em que vai circular que se dá a constituição dos gêneros.
Quando vamos produzir qualquer escrita, selecionamos um gênero para formatar nossos enunciados. Não escrevemos aleatoriamente. Produzimos gêneros textuais ou discursivos, de acordo com finalidades específicas.
Não é difícil constatar que nos últimos dois séculos foram as novas tecnologias, em especial as ligadas à área da comunicação, que propiciaram o surgimento de novos gêneros textuais. Por certo, não são propriamente as tecnologias per se que originam os gêneros e sim a intensidade dos usos dessas tecnologias e suas interferências nas atividades comunicativas diárias. Assim, os grandes suportes tecnológicos da comunicação tais como o rádio, a televisão, o jornal, a revista, a internet, por terem uma presença marcante e grande centralidade nas atividades comunicativas da realidade social que ajudam a criar, vão por sua vez propiciando e abrigando gêneros novos bastante característicos. Daí surgem formas discursivas novas, tais como foram os telegramas, telefonemas, teleconferências, editoriais, video-conferências, notícias, e mais recentemente e-mails, bate-papos virtuais, aulas virtuais, mensagens de textos instantâneas, redes sociais e assim por diante.
Tipo textual é diferente de gênero textual (discursivo):
Usamos a expressão gênero textual para nos referir aos textos materializados que encontramos em nossa vida diária e que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição característica.
Os gêneros discursivos são inúmeros como vimos: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica, bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante.
Já a expressão tipo textual é utilizada para designar uma espécie de construção teórica definida pela natureza lingüística de sua composição {aspectos lexicais*, sintáticos**, tempos verbais, relações lógicas}. Os tipos textuais são basicamente cinco: narração, argumentação, exposição, descrição, injunção.
* relacionado ao conjunto de palavras de um idioma
** construção das sentenças (sintaxe)
Em linhas gerais:
A narração consiste em arranjar uma sequência de fatos na qual os personagens se movimentam num determinado espaço à medida que o tempo passa. O texto narrativo é baseado na ação que envolve personagens, tempo, espaço e conflito. Seus elementos são: narrador, enredo, personagens, espaço e tempo.
Dissertar é, por meio da organização de palavras, frases e textos, apresentar ideias, desenvolver raciocínio, analisar contextos, dados e fatos. Neste momento temos a oportunidade de discutir, argumentar e defender o que pensamos utilizando-se da fundamentação, justificação, explicação, persuasão e de provas.
O texto descritivo é um tipo de texto que envolve a descrição de algo, seja de um objeto, pessoa, animal, lugar, acontecimento, e sua intenção é, sobretudo, transmitir para o leitor as impressões e as qualidades de algo. Em outras palavras, o texto descritivo capta as impressões, de forma a representar a elaboração de um retrato, como uma fotografia revelada por meio das palavras.
A injunção é bastante frequente no cotidiano de grande parte das pessoas, já que podemos encontrá-la em algumas situações durante a interação verbal oral – quando recebemos ou damos ordens a alguém – e/ou verbal escrita – a partir de textos injuntivos,como os manuais de instrução, as receitas culinárias, algumas campanhas eleitorais e publicitárias, as cartilhas com instruções e regras de jogos, bulas de remédio, livro de autoajuda, cartilhas de instrução de viagens aéreas e rodoviárias etc.
O texto expositivo é um tipo de texto que visa a apresentação de um conceito ou de uma ideia. Muito comum esse tipo de texto ser abordado no contexto escolar e acadêmico, uma vez que inclui formas de apresentação, desde seminários, artigos acadêmicos, congressos, conferências, palestras, colóquios, entrevistas, dentre outros.
Narração
Uma narrativa é uma exposição de fatos, marcada pela temporalidade, isto é, a progressão temporal é essencial para seu desenrolar.
As notícias de jornal, história em quadrinhos, romances, contos e novelas, são, entre outras, formas de se contar uma história, ou seja, são narrativas.
A narração segue a seguinte estrutura:
Apresentação: é parte introdutória, em que as principais características do contexto são apresentadas, tais como as personagens, o lugar e o período de tempo.
Desenvolvimento: é a parte que apresenta a sucessão de acontecimentos.
Clímax: é a parte mais emocionante em virtude de ser o momento em que algo é revelado.
Desfecho: é parte conclusiva, a partir de quando são tomados os rumos finais da narração.
Elementos da narração: Narrador, Personagens
Há três tipos de narrador. É esse elemento que determina o foco narrativo, ou seja, a perspectiva da história.
Narrador Personagem: ele faz parte da história contada. Nesse caso, a narração é feita na 1ª pessoa do singular (eu) ou do plural (nós).
Narrador Observador: ele não faz parte da história, apenas a observa. A narração é feita na 3ª pessoa do singular (ele) ou do plural (eles).
Narrador Onisciente: ele conhece todos os detalhes da narração: o presente, o passado e o futuro da história, além do que os personagens e os seus pensamentos. Na maior parte das vezes a narração é feita na 3ª pessoa, por vezes, na 1ª.
Conforme a sua importância, os personagens são classificados em principais e secundários.
Os principais são chamados de protagonistas, enquanto os secundários são coadjuvantes.
Narrador personagem:
"No dia seguinte fui à sua casa, literalmente correndo. Ela não morava num sobrado como eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar. Olhando bem para meus olhos, disse-me que havia emprestado o livro a outra menina, e que eu voltasse no dia seguinte para buscá-lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve a esperança de novo me tomava toda e eu recomeçava na rua a andar pulando, que era o meu modo estranho de andar pelas ruas de Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a promessa do livro, o dia seguinte viria, os dias seguintes seriam mais tarde a minha vida inteira, o amor pelo mundo me esperava, andei pulando pelas ruas como sempre e não caí nenhuma vez. Mas não ficou simplesmente nisso. O plano secreto da filha do dono da livraria era tranqüilo e diabólico. No dia seguinte lá estava eu à porta de sua casa, com um sorriso e o coração batendo. Para ouvir a resposta calma: o livro ainda não estava em seu poder, que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu como mais tarde, no decorrer da vida, o drama do “dia seguinte” com ela ia se repetir com meu coração batendo. E assim continuou. Quanto tempo? Não sei. Ela sabia que era tempo indefinido, enquanto o fel não escorresse todo de seu corpo grosso. Eu já começara a adivinhar que ela me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra. Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: pois o livro esteve comigo ontem de tarde, mas você só veio de manhã, de modo que o emprestei a outra menina. E eu, que não era dada a olheiras, sentia as olheiras se cavando sob os meus olhos espantados. Até que um dia, quando eu estava à porta de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia estar estranhando a aparição muda e diária daquela menina à porta de sua casa. Pediu explicações a nós duas. Houve uma confusão silenciosa, entrecortada de palavras pouco elucidativas. A senhora achava cada vez mais estranho o fato de não estar entendendo. Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se para a filha e com enorme surpresa exclamou: mas este livro nunca saiu daqui de casa e você nem quis ler!"
(Trecho do conto Felicidade clandestina, de Clarice Lispector)
Narrador observador:
"A cachorra baleia estava para morrer. Tinha emagrecido, o pelo caíra-lhe em vários pontos, as costelas avultavam num fundo róseo, onde manchas escuras supuravam e sangravam, cobertas de moscas. As chagas da boca e a inchação dos beiços dificultavam-lhe a comida e a bebida. Por isso Fabiano imaginara que ela estivesse com um princípio de hidrofobia e amarrara-lhe no pescoço um rosário de sabugos de milho queimados. Mas baleia, sempre de mal a pior, roçava-se nas estacas do curral ou metia-se no mato, impaciente, enxotava os mosquitos sacudindo as orelhas murchas, agitando a cauda pelada e curta, grossa na base, cheia de roscas, semelhante a uma cauda de cascavel. Então Fabiano resolveu matá-la. Foi buscar a espingarda de pederneira, lixou-a, limpou-a com o saca-trapo e fez tenção de carregá-la bem para a cachorra não sofrer muito. Sinhá Vitória fechou-se na camarinha, rebocando os meninos assustados, que adivinhavam desgraça e não se cansavam de repetir a mesma pergunta: — Vão bulir com a Baleia? Tinham visto o chumbeiro e o polvarinho, os modos de Fabiano afligiam-nos, davam-lhes a suspeita de que Baleia corria perigo. Ela era uma pessoa da família: brincavam juntos os três, para bem dizer não se diferençavam, rebolavam na areia do rio e no estrume fofo que ia subindo, ameaçava cobrir o chiqueiro das cabras."
(Trecho do conto Baleia, de Graciliano Ramos)
Narrador Onisciente
"No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha — com persistência, continuidade, alegria. O que sucedera a Ana antes de ter o lar estava para sempre fora de seu alcance: uma exaltação perturbada que tantas vezes se confundira com felicidade insuportável. Criara em troca algo enfim compreensível, uma vida de adulto. Assim ela o quisera e o escolhera. Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto — ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranqüila vibração. De manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e sujos, como se voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das raízes negras e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera."
(Trecho do conto Amor, de Clarice Lispector)
Comments