top of page

Aula 3 - Figuras de Linguagem e Tipo Textual (Argumentativo)

  • Foto do escritor: Fernanda Araujo
    Fernanda Araujo
  • 25 de ago. de 2018
  • 8 min de leitura

Atualizado: 26 de ago. de 2018



Parte 1 - Figuras de Linguagem


As figuras de linguagem são recursos linguísticos a que os autores recorrem para tornar a linguagem mais rica e expressiva.


As figuras de linguagem exprimem o pensamento de modo original e criativo, exploram o sentido não literal das palavras, realçam sonoridade de vocábulos e frases e, até mesmo, organizam orações, afastando-a, de algum modo, de uma estrutura gramatical padrão, a fim de dar destaque a algum de seus elementos.


Para compreensão das figuras de linguagem é preciso compreender primeiramente os conceitos denotação e conotação.


Denotação

Ocorre denotação quando a palavra é empregada em sua significação usual, literal, referindo-se a uma realidade concreta ou imaginária.


Já é a terceira vez que perco as chaves do meu carro.


Aquela sobremesa estava muito azeda.



Conotação

Ocorre a conotação quando a palavra é empregada em sentido figurado, associativo, possibilitando várias interpretações. Ou seja, o sentido conotativo tem a propriedade de atribuir às palavras significados diferentes de seu sentido original.


A chave da questão é você ser feliz independente do momento.


Margarida é uma mulher azeda, está sempre de péssimo humor.


Podemos perceber que as palavras chave e azeda ganham novos sentidos além dos quais encontramos nos dicionários. O sentido das palavras está de acordo com a idéia que o emissor quer transmitir. Sendo assim, a conotação é um recurso que consiste em atribuir novos significados ao sentido denotativo da palavra.


As figuras de linguagem são classificadas em figuras de som, figuras de construção e figuras de palavras ou semânticas.




Figuras de som ou sonoras


As figuras de som ou figuras sonoras são aquelas que se utilizam de efeitos da linguagem para reproduzir os sons.

São as seguintes: aliteração, assonância, paronomásia e onomatopeia.


Aliteração: consiste na repetição ordenada de mesmos sons consonantais.


“Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando...Dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito”. (Guimarães Rosa)




Assonância: consiste na repetição ordenada de mesmos sons vocálicos.


“O que o vago e incógnito desejo/de ser eu mesmo de meu ser me deu”. (Fernando Pessoa)





Paronomásia: consiste na aproximação de palavras de sons parecidos, mas de significados distintos.


“Conhecer as manhas e as manhãs/ O sabor das massas e das maçãs”. (Almir Sater e Renato Teixeira)





Onomatopeia: consiste na criação de uma palavra para imitar sons e ruídos. É uma figura que procura imitar os ruídos e não apenas sugeri-los.


Chega de blá-blá-blá-blá!




É importante destacar que a existência de uma figura de linguagem não exclui outras.

Em um mesmo texto podemos encontrar aliteração, assonância, paronomásia e onomatopeia.



 


Figuras de construção ou sintaxe


As figuras de construção ou figuras de sintaxe são desvios que são evidenciados na construção normal do período.

Elas ocorrem na concordância, na ordem e na construção dos termos da oração.

São as seguintes: elipse, zeugma, pleonasmo, assíndeto, polissíndeto, anacoluto, hipérbato, hipálage, anáfora e silepse.


Elipse: consiste na omissão de um termo facilmente identificável pelo contexto.

Na sala, apenas quatro ou cinco convidados. (omissão de havia)




Zeugma: ocorre quando se omite um termo que já apareceu antes. Ou seja, consiste na elipse de um termo que antes fora mencionado.


Nem ele entende a nós, nem nós a ele. (omissão do termo entendemos)




Pleonasmo: é uma redundância cuja finalidade é reforçar a mensagem.


“E rir meu riso e derramar meu pranto....” (Vinicius de Moraes)




Assíndeto: é a supressão de um conectivo entre elementos coordenados


“Todo coberto de medo, juro, minto, afirmo, assino.” (Cecília Meireles)


Acordei, levantei, comi, saí, trabalhei, voltei.





Polissíndeto: consiste na repetição de conectivos ligando termos da oração ou elementos do período.


“...e planta, e colhe, e mata, e vive, e morre...” (Clarice Lispector)




Anacoluto: consiste em deixar um termo solto na frase. Isso ocorre, geralmente, porque se inicia uma determinada construção sintática e depois se opta por outra.


“Eu, que me chamava de amor e minha esperança de amor.”


“Aquela mina de ouro, ela não ia deixar que outras espertas botassem as mãos.” (Camilo Castelo Branco)


Os termos destacados não se ligam sintaticamente à oração. Embora esclareçam a frase, não cumprem nenhuma função sintática nos exemplos.


Hipérbato ou Inversão: consiste no deslocamento dos termos da oração ou das orações no período. Ou seja, é a mudança da ordem natural dos termos na frase.


São como cristais suas lágrimas.


Batia acelerado meu coração


Na ordem direta, as frases dos exemplos expostos seriam:


Suas lágrimas são como cristais.


Meu coração batia acelerado.


Hipálage: ocorre quando se atribui a uma palavra uma característica que pertence a outra da mesma frase:


Esse sapato não entra no meu pé! (= Eu não entro nesse sapato!)


Essa blusa não cabe em mim. (= Eu não caibo mais nessa blusa.)



Anáfora: é a repetição da mesma palavra ou expressão no início de várias orações, períodos ou versos.


“Tudo é silêncio, tudo calma, tudo mudez.” (Olavo Bilac)





Silepse: ocorre quando a concordância se faz com a ideia subentendida, com o que está implícito e não com os termos expressos. A silepse pode ser:


De gênero:


Vossa excelência é pouco conhecido. (concorda com a pessoa representada pelo pronome)


De número:


Corria gente de todos os lados, e gritavam. (gente dá ideia de plural, gritavam concorda com “gente”)


De pessoa


Os brasileiros somos bastante otimistas. (brasileiros dá ideia de nós (1º p. do plural) somos, 1º p. do plural “concorda” com “somos”)





Figuras de palavras ou semânticas


Consistem no emprego de uma palavra num sentido não convencional, ou seja, num sentido conotativo. São as seguintes: comparação, metáfora, catacrese, metonímia, antonomásia, sinestesia, antítese, eufemismo, gradação, hipérbole, prosopopeia, paradoxo, perífrase, apóstrofe e ironia.



Metáfora: consiste em empregar um termo com significado diferente do habitual, com base numa relação de similaridade entre o sentido próprio e o sentido figurado. Na metáfora ocorre uma comparação em que o conectivo comparativo fica subentendido.


“Meu pensamento é um rio subterrâneo”. (Fernando Pessoa)




Comparação ou símile: ocorre comparação quando se estabelece aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados por nexos comparativos explícitos, como tal qual, assim como, que nem e etc. A principal diferenciação entre a comparação e a metáfora é a presença dos nexos comparativos.


“E flutuou no ar como se fosse um príncipe.” (Chico Buarque)



Catacrese: ocorre quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, toma-se outro por empréstimo.


Ele comprou dois dentes de alho para colocar na comida.


O pé da mesa estava quebrado.


Não sente no braço do sofá.





Metonímia: assim como a metáfora, consiste numa transposição de significado, ou seja, uma palavra que usualmente significa uma coisa passa a ser utilizada com outro sentido. Ou seja, é o emprego de um nome por outro em virtude de haver entre eles algum relacionamento. A metonímia ocorre quando se emprega:


A causa pelo efeito: vivo do meu trabalho (do produto do trabalho = alimento)


O efeito pela causa: aquele poeta bebeu a morte (= veneno)


O instrumento pelo usuário: os microfones corriam no pátio = repórteres).





Antonomásia: É a figura que designa uma pessoa por uma característica, feito ou fato que a tornou notória.


A cidade eterna. (Roma)

O presidente dos pobres suicidou-se em 1954. (Getúlio Vargas)

O poeta dos escravos nasceu na Bahia. (Castro Alves)

Visitei a cidade Luz. (Paris)


Sinestesia: Trata-se de mesclar, numa expressão, sensações percebidas por diferentes órgãos sensoriais.


Um doce abraço ele recebeu da irmã. (sensação gustativa e sensação tátil)





Antítese: é o emprego de palavras ou expressões de significados opostos.


Os jardins têm vida e morte.





Eufemismo: consiste em atenuar um pensamento desagradável ou chocante.


Ele sempre faltava com a verdade (= mentia)





Gradação ou clímax: é uma sequência de palavras que intensificam uma ideia.


Porque gado a gente marca,/ tange, ferra, engorda e mata,/ mas com gente é diferente.





Hipérbole: trata-se de exagerar uma ideia com finalidade enfática.


Estou morrendo de sede!


Não vejo você há séculos!






Prosopopeia ou personificação: consiste em atribuir a seres inanimados características próprias dos seres humanos.


O jardim olhava as crianças sem dizer nada.






Paradoxo: consiste no uso de palavras de sentido oposto que parecem excluir-se mutuamente, mas, no contexto se completam, reforçam uma ideia e/ou expressão.


Estou cego, mas agora consigo ver.





Perífrase: é uma expressão que designa um ser por meio de alguma de suas características ou atributos.


O ouro negro foi o grande assunto do século. (= petróleo)





Apóstrofe: é a interpelação enfática de pessoas ou seres personificados.


“Senhor Deus dos desgraçados!/ Dizei-me vós, Senhor Deus!” (Castro Alves)





Ironia: é o recurso linguístico que consiste em afirmar o contrário do que se pensa.


Que pessoa educada! Entrou sem cumprimentar ninguém.







 

Parte 2 - Tipo Textual Argumentativo


O texto dissertativo argumentativo tem como principais características:

a apresentação de um raciocínio,

a defesa de um ponto de vista ou

o questionamento de uma determinada realidade.


O autor se vale de argumentos, de fatos, de dados, que servirão para ajudar a justificar as ideias que ele irá desenvolver.


As três características básicas de um texto dissertativo são:

  • Apresentação do ponto de vista

  • Discussão dos argumentos

  • Análise crítica do texto


A diferença desse modelo para um texto narrativo, por exemplo, é que o texto narrativo descreve uma história, contendo alguns elementos importantes como personagens, local, tempo (intervalo no qual ocorreram os fatos), enredo (fatos que motivaram a escrita). O texto dissertativo, por outro lado, tem como objetivo defender um ponto de vista usando argumentos.


Uma redação dissertativa argumentativa pode ser escrita na terceira pessoa do plural (objetiva) ou na primeira pessoa do singular (subjetiva):


Na dissertação objetiva, o autor não se identifica com o leitor, já que os argumentos são expostos de forma impessoal. Isso, aliás, confere ao texto um ar de imparcialidade, embora se saiba que é a visão do autor que está sendo discutida. Esse procedimento faz o leitor aceitar mais facilmente as ideias expostas no texto.


No texto dissertativo subjetivo, o autor se mostra por meio do uso da primeira pessoa do singular (eu), evidenciando que os argumentos são resultados da opinião pessoal de quem escreve (não que no texto objetivo também não o sejam, afinal, a influência das ideias do autor estão presentes também neste último caso).


Objetivo:

1) “Há tipos diferentes de ruínas. Mas elas são sempre resultado de uma demolição ou desconstrução de edificações. Existe um primeiro tipo que simboliza um tempo passado que evoluiu e foi deixando ruínas devido às mudanças dos gostos e da riqueza dos donos.”


Subjetivo:

2) “Não sou do tipo que se impressiona com boatos, mas não posso ficar indiferente aos últimos acontecimentos no cenário público do Brasil. Toda essa movimentação em torno dos casos de corrupção que assolam a nação me fez pensar sobre a importância da ética nas relações sociais em todos os níveis. Não quero me convencer de que um valor moral tão importante esteja sendo banido da sociedade, substituído pelo direito de garantia de privilégios pessoais a qualquer custo.”


Podemos notar claramente a diferença no uso da terceira e da primeira pessoa.

Na prática, escrever na primeira pessoa (eu/nós) dá origem a frases do tipo:

– “Precisamos estar conscientes da importância do cuidado ao meio ambiente

– “Sabemos que o Brasil precisa de mudanças”

– “Tive bons professores, mas nem todo estudante tem esse privilégio”.

As mesmas frases acima escritas na terceira pessoa do plural ficariam:

– “É preciso estar consciente da importância do cuidado ao meio ambiente

– “Sabe-se que o Brasil precisa de mudanças

– “Alguns estudantes têm bons professores, mas nem todos têm esse privilégio”.

Repare que quando você escreve na terceira pessoa do plural, nunca utiliza os verbos conjugados pessoalmente (utilizando o “eu” ou o “nós”). As frases sempre ficam impessoais.


Essas duas maneiras de escrita são aceitas, mas é muito importante que você escolha e mantenha o mesmo estilo do início ao fim! Se você escolheu a escrita objetiva, não utilize a subjetiva e vice-versa.


Tipos de argumentos


– Argumento de Autoridade: É aquele que se apoia no conhecimento de um especialista da área. É um modo de trazer para o texto o peso e a credibilidade da autoridade citada.

Por exemplo: “Conforme afirma Bertrand Russel, não é a posse de bens materiais o que mais seduz os homens, mas o prestígio decorrente dela”.


– Argumento de consenso: Alguns enunciados não exigem a demonstração de um especialista para que se prove o conteúdo argumentado. Nesse caso, não precisamos citar uma fonte de confiança.

Por exemplo: “O investimento na Educação é indispensável para o desenvolvimento econômico do país”. Repare que essa afirmação não precisa de embasamento teórico, pois é um consenso global.


– A Comprovação pela Experiência ou Observação: Esse tipo de argumentação é fundamentada na documentação com dados que comprovam ou confirmam sua veracidade. Por exemplo: “O acaso pode dar origem a grandes descobertas científicas. Alexander Flemming, que cultivava bactérias, por acaso percebeu que os fungos surgidos no frasco matavam as bactérias que ali estavam. Da pesquisa com esses fungos, ele chegou à penicilina”. Observe que, nesse caso, o argumento que validou a afirmação “O acaso pode dar origem a grandes descobertas” foi a documentação da experiência de Flemming.

– A Fundamentação Lógica: A argumentação nesse caso se baseia em operações de raciocínio lógico, tais como as implicações de causa e efeito, consequência e causa, etc.

Por exemplo: “Ao se admitir que a vida humana é o bem mais precioso do homem, não se pode aceitar a pena de morte, uma vez que existe sempre a possibilidade de um erro jurídico que, no caso, seria irreparável”. Note que a ideia que o leitor tentou passar era: Não se pode aceitar a pena de morte. Para isso, foi mencionado o caso de falha humana na sentença, o que permitiu que se chegasse a tal conclusão.


Qualquer um desses tipos de argumentos citados é válido na construção de um texto argumentativo.


Estrutura

Estrutura organizada em três partes:

  1. a introdução, na qual é apresentada a ideia principal ou tese;

  2. o desenvolvimento, que fundamenta ou desenvolve a ideia principal;

  3. e a conclusão.


Exemplo:



Comentários


bottom of page