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Aula 4 - Construção Textual e Tipo Textual (Exposição)

  • Foto do escritor: Fernanda Araujo
    Fernanda Araujo
  • 27 de ago. de 2018
  • 9 min de leitura

Atualizado: 2 de set. de 2018


Conteúdo

Parte 1

  • Condições de produção de um texto

  • A produção da escrita

  • Coesão e Coerência

Parte 2

  • Tipo textual: Exposição





Condições de produção de um texto


As condições de produção de um texto escrito exercem influência sobre a forma como o texto é organizado. Assim, na escrita é preciso considerar, o momento da produção, os objetivos, a quem se destina o texto escrito, onde vai circular o texto e o enunciador do texto.


Quando produzimos um texto, produzimos para alguém, estamos em interação

com outra pessoa, um leitor, embora nem sempre presente no ato da escrita.


Por mais ingênuo que possa parecer, para produzir um texto (em qualquer modalidade)

é preciso que:

1. se tenha o que dizer; (o que)

2. se tenha uma razão para dizer o que se tem a dizer; (por que)

3. se tenha para quem dizer o que se tem a dizer. (para quem)



Nesse sentido, considerar a escrita nessa abordagem é focalizar o processo interacionista

da escrita, de modo que quem escreve entenda as condições de produção do texto,

como:

  • os objetivos que deve cumprir com a sua escrita

  • o leitor a quem se destina o texto produzido

  • em que suporte vai circular sua escrita, se num jornal, numa revista, num livro

  • e onde vai circular socialmente o texto (na escola, num determinado grupo social)


Usar a escrita, assim, é muito mais do que o domínio dos códigos de um sistema

lingüístico que podem ser utilizados para registrar documentos, narrativas, para

publicar informações, enviar bilhetes ou noticiar fatos.


Escrever é fazer uso social de um instrumento cultural e ideológico que permite ao sujeito refletir, elaborar o conhecimento e tomar consciência ideológica de si e do mundo que o rodeia.


É, antes de tudo, fazer-se lido e ler, compreender, responder, perguntar ou argumentar.


É usar uma língua, que carrega consigo valores, entoações, estilos, gêneros e discursos.


É, portanto, fazer uso de uma linguagem social, cultural, ideológica, política.


É válido lembrar que quando escrevemos, usamos enunciados/discursos,

produzimos gêneros textuais (orais ou escritos), engendrados no contexto social que circulam socialmente.


Devemos produzir textos/enunciados que queremos dizer para alguém, com finalidades específicas e por razões diversas.


Escrevemos para opinar, formar opinião, enviar recados, informar, para analisar conceitos, para defender ou se contrapor a pontos de vista, para orientar como se faz uma comida, para indicar caminhos, mostrar índices, entre outros.


O texto escrito não é uma atividade solitária.


a) a produção textual é uma atividade verbal, a serviço de fins sociais e, portanto, inserida

em contextos mais complexos de atividades;


b) trata-se de uma atividade consciente, criativa, que compreende o desenvolvimento de estratégias concretas de ação e a escolha de meios adequados à realização dos objetivos;

isto é, trata-se de uma atividade intencional que o falante, de conformidade com as

condições sob as quais o texto é produzido, empreende, tentando dar a entender seus

propósitos ao destinatário através da manifestação verbal;


c) é uma atividade interacional.


A produção da escrita


A produção escrita deve ser uma atividade organizada em quatro níveis de operações:

a) o planejamento

b) a textualidade

c) a revisão

d) a reescrita



O planejamento é o pré-requisito de todo o trabalho. Supõe o emprego de capacidades cognitivas gerais e variadas entre os pólos da seleção e organização das idéias.


A textualização agrupa todas as operações de determinação e estruturação propriamente lingüísticas da etapa de planejamento.


A revisão que propicia o reexame crítico do texto produzido e a possibilidade de modificações, levando a operações de adequação definitiva.


Finalmente, a essa possibilidade de modificações e adequação definitiva, nós damos o nome de reescrita do texto. Assim, você refaz o texto, dando a legibilidade necessária para que seu destinatário construa sentidos para o que você escreveu.




O texto no quarto quadrinho apresenta o termo mas, que é um conectivo, que normalmente opõe duas idéias contrárias.


Como você pode observar, quando nós escrevemos ou oralizamos, usamos determinados

termos para fazer sentido ao que enunciamos. Esses termos usados adequadamente

promovem a textualidade.


A textualidade garante que um texto se apresente como um todo significativo e não, apenas,

como um amontoado de palavras e frases soltas e de idéias sem nexo. Para isso, deve

ter coesão e coerência.


Dizemos que um texto está coeso, quando seus enunciados estão articulados de forma que

assinalam o vínculo entre os componentes do texto.


A conexão entre os enunciados são feitas, sobretudo, por certa categoria de palavras que são chamadas de conectivos ou elos de coesão.


Os recursos de coesão são utilizados para expressar no texto a direção discursiva-argumentativa que o locutor quer imprimir no texto ou que direção ele pretenda dar á sua locução (discursos oral ou escrito).


O uso adequado de elos coesivos confere unidade ao texto e contribui para estabelecer relações de sentido.


Existem duas grandes modalidades de coesão:

a) coesão referencial;

b) coesão seqüencial.


Coesão


Coesão referencial é aquela em que um componente da superfície do texto faz remissão a outro(s) elemento(s) do universo textual.


Ao primeiro dá-se o nome de forma referencial ou remissiva e ao segundo, elemento de referência ou referente textual.


Exemplo 1:

Os europeus - principalmente, franceses e portugueses (...)


Os termos, “franceses e portugueses “fazem remissão a “os europeus”, portanto, fazem

referência. São elementos referenciais e a coesão é chamada referencial.


A noção de elemento referencial é bastante ampla, podendo o termo ser representado por um nome, um fragmento de oração, uma oração ou todo um enunciado.


A coesão seqüencial diz respeito aos procedimentos lingüísticos por meio dos quais

se estabelecem, entre segmentos do texto, diversos tipos de relações semânticas e/ou

pragmáticas, à medida que faz o texto progredir.


Exemplo 2:

Além de tudo, a planta fornecia uma tinta de boa qualidade (...)


O termo “Além de tudo” é um conector discursivo, responsável pela concatenação, pela

criação de relações entre os segmentos do texto e estabelece, também, uma significação.

criar relações entre segmentos de um texto podem ser considerados termos de coesão.


a) Assim, desse modo: têm um valor exemplificativo e complementar. A seqüência

introduzida por eles serve normalmente para explicitar, confirmar ou ilustrar o que se

disse antes.


b)E: anuncia o desenvolvimento do discurso e não a repetição do que foi dito antes. Indica

uma progressão semântica que adiciona, acrescenta algo de novo.


c) Assim: serve, entre outras coisas, para introduzir mais um argumento a favor de

determinada conclusão, ou para incluir um elemento a mais dentro de um conjunto

qualquer.


d) Aliás, além do mais, além de tudo, além disso: introduzem um

argumento decisivo, apresentado como acréscimo, como se fosse desnecessário,

justamente para dar o golpe final no argumento contrário.


e) Isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras: introduzem

esclarecimento, retificações ou desenvolvimento do que foi dito anteriormente.


f) Mas, porém, contudo e outros conectivos adversativos: marcam

oposição entre dois enunciados ou dois segmentos do texto. Às vezes, a oposição se faz

entre significados implícitos no texto.


g) Embora, ainda que, mesmo que: são relatores que estabelecem ao mesmo tempo uma

relação de contradição e concessão. Serve para admitir um dado contrário para depois

negar seu valor de argumento. Trata-se de um expediente de argumentação muito

vigoroso: sem negar as possíveis objeções, afirma-se um ponto de vista contrário.



Coerência


O termo coerência deve ser, pois, entendido como algo que se estabelece na interação,

na interlocução.


É esse procedimento que revela o sentido do texto para os usuários e que

está diretamente ligada à inteligibilidade do texto.


Há diferentes níveis de coerência:


a) Coerência narrativa – quando as implicações lógicas entre as partes da narrativa são

respeitadas. Numa narrativa, as ações acontecem num tempo sucessivo, de forma que o

que é posterior depende do que é anterior.


b) Coerência argumentativa – diz respeito às relações de implicação ou de adequação que

se estabelecem entre pressupostos ou afirmações explícitas no texto e as conclusões

decorrentes destes.

Alguns raciocínios lógicos se prestam como exemplos de incoerência argumentativa,

tais como: Toda cidade tem pobres. João Pessoa tem pobres. Logo, João Pessoa é uma cidade.

Existe nesta afirmação uma inadequação, entre as “premissas” e a conclusão, pois pode haver pobres em lugares que não são cidades ou vice-versa.


c) Coerência figurativa – quando há uma compatibilidade entre temas e figuras ou de

figuras entre si. As figuras se encadeiam num percurso, para manifestar um determinado

tema, por isso, têm que ser compatíveis umas com as outras, senão o leitor não percebe

o tema que se deseja veicular.


d) Coerência espacial – diz respeito à compatibilidade entre os enunciados do ponto de

vista de localização no espaço.


e) Coerência temporal – é a que respeita as leis da sucessividade dos eventos ou apresenta

uma compatibilidade entre os enunciados do texto, do ponto de vista da localização no tempo. As ações temporais devem ser sequenciadas numa temporalidade compatível, de

modo que seja possível ao leitor acompanhar essa seqüência temporal. Caso contrário,

efetiva-se uma subversão na sucessividade dos eventos, ocasionando a incoerência. Não

se deve dizer, por exemplo: “Acordei cedo, hoje, às dez horas. Fui ao trabalho, vesti a

roupa, tomei banho e fui caminhar, depois do almoço...” Há uma incompatibilidade na

sucessividade das ações, de forma que facilmente se percebe a incongruência dos fatos.


f) Coerência no nível da linguagem – é a compatibilidade do ponto de vista da variante lingüística escolhida, em nível do léxico e da organização sintática utilizada no texto.

Incoerente, pois, usar expressões chulas ou de linguagem informal num texto caracterizado

pela norma culta formal. A não ser em textos, cujo gênero seja permitido tal uso.

Na linguagem oral, essa incompatibilidade é corrigida, muitas vezes, por meio de ressalvas

do tipo: “com o perdão da palavra” ou “se me permitem...”

É importante esclarecer que a exploração da incoerência pode fazer parte de um

programa intencionalmente arquitetado pelo produtor do texto. Por exemplo: Um publicitário poderá fazer uso propositadamente de uma incoerência, para obter efeitos diversificados de sentido no gênero textual propaganda.



Sobre a revisão de um texto:


Ao revisar um texto, podemos substituir termos, insistentemente usados, por outros,

que se adequem melhor ao contexto de produção. Podemos, também, apagar ou deletar termos que decidimos retirar do texto para melhorar o sentido dos enunciados. Podemos, ainda, deslocar termos que por alguma razão não devem estar naquele local e, finalmente, podemos acrescentar termos para ampliar nossas idéias, dando maior consistência ao que queremos enunciar.

  • enfatizar as idéias principais;

  • reordenar as informações;

  • substituir idéias inadequadas;

  • eliminar idéias desnecessárias;

  • alcançar maior exatidão para as idéias;

  • acrescentar exemplos, conceitos, citações, argumentos;

  • eliminar incoerências;

  • estabelecer hierarquia entre as idéias;

  • criar vínculos entre uma idéia e outra.




 

Tipo Textual Exposição


O texto expositivo é um tipo de texto que visa a apresentação de um conceito ou de uma ideia.


No texto expositivo, o objetivo central do locutor (emissor) é explanar sobre determinado assunto, a partir de recursos como: a conceituação, a definição, a descrição, a comparação, a informação e enumeração.


De acordo com seu objetivo central, os textos expositivos são classificados em dois tipos:


Texto Expositivo-argumentativo

Nesse caso, além de apresentar o tema, o emissor foca nos argumentos necessários para a explanação de suas ideias. Dessa forma, recorre aos diversos autores e teorias para comparar, conceituar e defender sua opinião.


Texto Expositivo-informativo

Nesta ocasião, o objetivo central do emissor é simplesmente transmitir as informações sobre determinado tema, sem grandes apreciações e, por isso, com o máximo de neutralidade.

Podemos pensar numa apresentação sobre os índices de violência no país, de modo que o conjunto de informações, gráficos e dados sobre o tema, apresentam tão somente informações sobre o problema, sem defesa de opinião.



Exemplos


Observe a seguir alguns exemplos de textos expositivos:


Verbete de dicionário

“Significado de Nostalgia (s.f). Tristeza causada pela saudade de sua terra ou de sua pátria; melancolia. Saudade do passado, de um lugar etc. Disfunções comportamentais causadas pela separação ou isolamento (físico) do país natal, pela ausência da família e pela vontade exacerbada de regressar à pátria. Saudade de alguma coisa, de uma circunstância já passada ou de uma condição que (uma pessoa) deixou de possuir. Condição melancólica causada pelo anseio de ter os sonhos realizados. Condição daquele que é triste sem motivos explícitos.

Enciclopédia

“Cervo-do-pantanal (nome científico: Blastocerus dichotomus), também chamado suaçuetê, suaçupu, suaçuapara, guaçupuçu ou simplesmente cervo, é um mamífero ruminante da família dos cervídeos e único representante do gênero Blastocerus. Ocorria em grande parte das várzeas e margens de rios do centro da América do Sul, desde o sul do rio Amazonas até o norte da Argentina, mas atualmente, a espécie só é comum no Pantanal, na bacia do rio Guaporé, na ilha do Bananal e em Esteros del Iberá.”

Entrevista

Clarice Lispector, de onde veio esse Lispector? É um nome latino, não é? Eu perguntei a meu pai desde quando havia Lispector na Ucrânia. Ele disse que há gerações e gerações anteriores. Eu suponho que o nome foi rolando, rolando, rolando, perdendo algumas sílabas e foi formando outra coisa que parece “Lis” e “peito”, em latim. É um nome que quando escrevi meu primeiro livro, Sérgio Milliet (eu era completamente desconhecida, é claro) diz assim: “Essa escritora de nome desagradável, certamente um pseudônimo…”. Não era, era meu nome mesmo. Você chegou a conhecer o Sérgio Milliet pessoalmente? Nunca. Porque eu publiquei o meu livro e fui embora do Brasil, porque eu me casei com um diplomata brasileiro, de modo que não conheci as pessoas que escreveram sobre mim. Clarice, seu pai fazia o que profissionalmente? Representações de firmas, coisas assim. Quando ele, na verdade, dava era para coisas do espírito. Há alguém na família Lispector que chegou a escrever alguma coisa? Eu soube ultimamente, para minha enorme surpresa, que minha mãe escrevia. Não publicava, mas escrevia. Eu tenho uma irmã, Elisa Lispector, que escreve romances. E tenho outra irmã, chamada Tânia Kaufman, que escreve livros técnicos. Você chegou a ler as coisas que sua mãe escreveu? Não, eu soube há poucos meses. Soube através de uma tia: “Sabe que sua mãe fazia um diário e escrevia poesias?” Eu fiquei boba… Nas raras entrevistas que você tem concedido surge, quase que necessariamente, a pergunta de como você começou a escrever e quando? Antes de sete anos eu já fabulava, já inventava histórias, por exemplo, inventei uma história que não acabava nunca. Quando comecei a ler comecei a escrever também. Pequenas histórias.” (Trecho da última entrevista com a escritora Clarice Lispector, concedida em 1977, ao repórter Júlio Lerner, da TV Cultura).



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